sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Democracia representativa

Agora que já temos assembleia constituida e governo empossado, começam a surgir, como aqui, vários defensores da ideia de que a primeira medida, ou das primeiras, a tomar nesta legislatura, deverá ser a de permitir o casamento civil a pessoas do mesmo sexo. Para além da ideia de que esta medida deve ser tomada de imediato, são completamente contra a ideia de realizar um referendo.
O argumento mais utilizado é de que existe uma maioria de deputados eleitos por partidos, que referiam no seu programa eleitoral que o casamento civil deveria passar a ser acessível a pessoas do mesmo sexo. Como se sabe, este tema não foi debatido na campanha e apesar de os partidos de esquerda, defenderem de facto esta medida, não me recordo de nenhum deles referir que quereria fazer aprovar de imediato tal iniciativa. Mas agora diz-se, votaram "á esquerda", está nos programas, então vamos a isto, quem não concordar ou tiver dúvidas, não votasse em partidos que defendem esta alteração.
Este argumento, a mim deixa-me profundamente agastado, mais uma vez , com os nossos agentes politicos.
Em 2001 na campanha eleitoral do PSD, o que mais se ouviu foi a proposta do "choque fiscal" com o objectivo de animar a economia. Resultado: Aumentaram o IVA de 16% para 19%.
Há quatro anos, dois temas centrais da campanha e do  programa eleitoral do PS foram a não subida de impostos ("o nosso caminho não é esse") e a realização de um referendo sobre a constituição europeia.
Resultado: Para além de inumeras subidas de impostos de forma mais ou menos camuflada, o IVA passou de 19% para 21%, tendo passado para 20% a meio da legislatura. Quanto ao referendo europeu, bem, como o tratado constitucional passou a chamar-se tratado de Lisboa, não há referendo para ninguém, porque os portugueses são capazes de não serem suficientemente inteligentes para perceber o impacto de um "não" no referendo, e se não há a certeza que o "sim" ganha, então nem pensem em fazer um referendo.
Perante este descrédito total que os partidos criaram na opinião dos portugueses, face a propostas concretas da governação, querem agora dizer-nos, num assunto que não é de estado, mas sim de sociedade, e em muitos aspectos um assunto intimo de cada um, "Esta parte do programa é mesmo para cumprir porque votaram em nós, mesmo que o sentido de voto não tenha sido influenciado por este tema".
Que rica forma de diminuir o cada vez maior distanciamento entre os eleitores e os seus representantes.

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