sábado, 14 de novembro de 2009

O estado a que isto (o nosso Estado) chegou

Ao que se sabe, no âmbito de uma investigação judicial, que visa uma alegada "rede tentacular" de corrupção que envolve dirigentes de grandes empresas portuguesas, muitas delas públicas e todas elas com forte ligações ao poder politico. O agora arguido, Armando Vara, foi alvo de escutas telefonicas, no decorrer dessa investigação. Em algumas dessas escutas, efectuadas ás comunicações do Armando Vara, o seu interlocutor terá sido o Primeiro Ministro José Sócrtaes.
A partir daqui gerou-se uma grande polémica e muitas notícias e rumores acerca da legalidade destas escutas, da forma como, parte do seu conteido? apareceu na comunicação social, violando desta forma o segredo de justiça, e estalou uma polémica entre o PGR e o STJ acerca de quem seria a responsabilidade de esclarecer este caso á opinião pública.
O último (tristissímo) episódio deste caso, aconteceu ontem, com o primeiro ministro (ele mesmo), o ministro da economia e o ministro da defesa a proferirem discursos absolutamente lamentáveis, em tom de acusação e mesmo de ameaça ao nosso sistema judicial, em particular á procuradoria geral da república. Em menos de uma semana, José Sócrates passou do discurso de "é natural que haja telefonemas meus, afinal Armando Vara é meu amigo...", para, "isto ultrapassou todas as marcas..., quero saber como é que isto é possível num estado de direito..., aguardo com muito interesse as declarações do PGR com as explicações que ele prometeu...", sendo que os ministros da economia e da defesa optaram, tristemente, por defender a tese de que o PGR estará envolvido, com estas escutas, em espionagem politica.
Que o PS se dá muito mal com o sistema judicial quando algum dos seus ilustres é alvo de alguma suspeita, infelizmente não é novidade, basta lembrar o caso casa-pia. Mas desta vez estão a ultrapassar todos os limites, e a meu ver a porem em causa o estado de direito, a separação de poderes e a própria democracia.
Que fique bem claro, se as escutas tiverem apenas conversas de teor particular, sem qualquer importância para o processo face oculta e sem qualquer indicio da prática de outros actos ilicitos, então devem ser de imediato destruidas. O procurador, que, com base nas escutas, extraiu as certidões não é (pelos vistos) dessa opinião e caberá então ao supremo analisar as certidões e as escutas.
Se, como aparece em alguma comunicação social, as escutas revelarem conversas que provam que José Socrates sabia mesmo do negócio em que a PT tentou comprar a média capital (dona da TVI), então, por mim, as escutas são irrelevantes. Eu pergunto, alguém em Portugal, precisa de alguma escuta para saber que José Socrates não disse a verdade na Assembleia da Républica quando disse que desconhecia o negócio?
Portanto se o teor das escutas for este, apesar de achar que o pm merece o incómodo e "humilhação" da denuncia e prova pública da sua mentira, a verdade é que isto não traz nada de novo, porque toda a gente já sabe que o pm mentiu.
Agora se as escutas revelarem indicios de actos ilicitos (praticados seja por quem for), então a bem da justiça (cuja imagem está mais do que enlameada), a bem da imagem dos detentores de cargos públicos (neste caso dizer que está enlameada é um eufemismo dos GRANDES) e, mais importante ainda, a bem do país, é meu dever enquanto cidadão, exigir que a justiça, investigue tudo, todos, cada um dos indicios, até ás últimas consequências, doa a quem doer. Isto não põe minimamente em causa principios básicos e fundamentais como a presunção de inocência, o direito ao contraditório e o direito a um julgamento justo, no devido lugar e não na praça pública. O que não pode acontecer é que o "medo" da mediatização excessiva e do (lamentável) aproveitamento politico que possa ser feito, impeça a justiça de cumprir o seu papel. A justiça deverá estar acima disso e ninguém poderá estar acima da Justiça.

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